quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Vozes do meu destino - Ferreira Alves Junior

Vozes do meu destino, Ferreira Alves Junior, Edição do Autor, 1944, capa brochura, 115 páginas, 168gr.

::: Quando o Dr. Joaquim Ferreira Alves me pediu que dissesse alguma coisa acerca do presente volume, confesso que hesitei. Sou passadista inveterado, com as articulações da inteligência tão rijas como as do físico.

Pertenço ao tempo em que poesia era sinônimo de singeleza, bom senso, clareza e harmonia: aquilo que fez, ainda faz e fará a glória dos poemas homéricos, eternamente belos e amados.

Hoje os tempos mudaram. A limpidez de linfa da poesia homérica tornou-se coisa insuportável para uma certa escola.

A poesia antiga nascia do povo e ia para o povo. Era uma força propulsora da cultura, educadora das mas-sas. A moderna, essa de que falo, é um santuário impenetravel, a não ser para os poucos iniciados. Quanto mais o poeta se restringe e se fecha no seu castelo de marfim, no seu preciosismo de teste, tanto mais aprimorada é a sua arte. Quanto mais ele fala a si mesmo, e não a outrem, tanto mais poeta se revela.

O Dr. Joaquim Ferreira Alves escreve para ser entendido. Quando fala em papoula não devo pensar em repolho. É papoula mesmo. E a propósito, aprecie o leitor este belo cromo:

"Entre craveiros ei-la, reclinada
Na janela que dá para o jardim.
Em que pensa tão lânguida, voltada
Para o poente onde o céu é carmezim?

Com a blusa escarlate, e decotada,
Deixando ver o colo de jasmim,
Entre os cravos purpúreos da sacada,
Tem no rosto cravinas de carmim.

Rubente flor de encantos possuidora,
Queda a fitar, saudosa e cismadora,
O horizonte flamante e rosicler.

Fica bem de vermelho e se afigura,
Pela cor do vestido e a formosura,
Uma papoula em forma de mulher! 

Aí está um bom passadista. Li, entendi, gostei. 
Certamente o leitor fará o mesmo e eu não quero mais influir na espontaneidade do seu juízo.
Otoniel Mota :::





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