Jardim Selvagem já é em si um título definidor. Mais do que o presente volume, define toda a ficção de Lygia Fagundes Telles onde se entrechocam os contrastes, colidem os valores, se exacerbam os contraditórios. Pois, se há um jardim, pressupondo requintes amaneirados de ornamentação - uma geométrica vitória sôbre a natureza, o homem dentro das convenções do bom comportamento -, há também toda a periculosidade da selva na sua força própria, a malignidade humana assomando nas frestas impoliciadas de seu ser e de seu agir. Nesta batalha de ego e id, nesta simultânea afirmação de valor e de seu correspondente desvalor, nesta macabra dança onde se alternam antagonismos latentes, nesta ambiguidade trágica, enfim, movem-se os personagens deste livro. Soprados não por uma grandiloquente força criadora, capaz de os dotar de ímpetos heróicos ou épicos, mas observados e impelidos por correntes abissais e demoníacas, surpreendidos em seus quotidianos problemas. É exatamente esta aguda capacidade de análise psicológica a viga mestra da estrutura novelística de Lygia Fagundes Telles.
O que nos parece sua melhor qualidade é a facilidade e a felicidade, também, com que surpreende a vida em suas mais singelas exteriorizações, o poder com que infla desta mesma vida os fatos mais rotineiros que nos cercam. O que vem a ser a grande mola do psicologismo literário que, ao contrário do que pensa muita gente, não consiste em armar testes e arcabouços acadêmicos, mas nesta constante capacidade de, num fluxo improvisado e imprevisível, numa sequência dinâmica, sondar a alma humana, confluída em sua nostálgica condição de "queda". O que poucos escritores no Brasil conseguem. - Arnaldo Mendes :::
::A medalha :: Um chá bem forte e três xícaras :: O espartilho :: A janela :: Antes do baile verde :: A caçada :: A chave :: Dezembro no bairro :: Uma história de amor :: O tesouro :: Meia-noite em ponto em Xangai :: O jardim selvagem :::
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