::: Talvez este seja o primeiro caso de se reunir em livro, numa edição feita com esmero e com todos os cuidados da arte gráfica, a obra musical de um compositor popular. Ocorre, porém, que Dorival Caymmi, "cantor das graças da Bahia", é além de um inspirado músico, um verdadeiro e legítimo poeta.
O que este volume apresenta, portanto, é o tesouro artístico de um cancioneiro popular, como outrora se fez com as peças dos trovadores palacianos. A música e a letra de Dorival Caymmi, com o seu pitoresco, que tem um valor específico e essencial, definidor e característico, e não supérfluo e maneiroso, e com o seu sentido social, político e cultural, necessitavam do livro - esse veículo de fixação do engenho humano - para permanecer nas bibliotecas de todos numa consagração à memória do povo, que sabe de cor as suas canções.
Caymmi é sobretudo o poeta da Bahia. Jorge Amado, o grande romancista, chamou-o, certa vez, o Castro Alves redivivo, o Castro Alves da música popular. Na verdade, muitas afinidades existem entre um e outro. E mais recentemente, Pablo Neruda, o altíssimo poeta chileno, por sugestão das composições de Caymmi, visitou a Bahia e lá, numa oração de amor à terra de Jubiabá, afirmou que aquele cantor, "com voz doce e profunda, leva sua saudade da Bahia por todo o céu do Brasil". E assim é realmente. A inspiração do músico-poeta está enraizada ao gênio do povo de seu solo e "só ele faz o samba e a canção baianos, só suas melodias são baianas". :::
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