::: Em maio de 1979, quando ainda remanesciam as sombras ameaçadoras do regime militar, o Jornal de Alagoas me indagava acerca das declarações prestadas no dia anterior pelo alagoano Carlito Lima, ex-capitão do Exército e carcereiro da conhecida Companhia de Guardas em Recife: ele fazia, então, uma reflexão sobre as origens e desdobramentos da revolução militar e concluía, como toda a nação, que já passara a hora de os militares retornarem aos quartéis e entregarem o poder aos civis.
Recordo o que disse na época.
Aplaudi a crítica feita por Carlito Lima ao regime e apelei para que outras pessoas vinculadas à revolução assumissem o mesmo caminho, criticando os equívocos da quartelada e seguindo o exemplo dele. A corajosa entrevista teve uma ampla e merecida repercussão, uma vez que havia proibição de manifestações políticas por parte de militares da reserva.
Carlito foi carcereiro de lideranças políticas que desafiaram os anos de chumbo e lutaram pela redemocratização do país, como Miguel Arraes, Francisco Julião, Paulo Freire, Paulo Cavalcante e outros. Frustrado com os rumos da revolução, abandonou o Exército, e a releitura crítica daquele período sombrio pode ser verificada nestas Confissões de um capitão.
Trata-se de um livro forte, humano, sóbrio e sincero. Resultado de uma memória extraordinária, amparada por um trabalho acurado de pesquisa, o livro traduz a visão dos anos de chumbo a partir de retinas atentas, críticas e, apesar de seu ofício, surpreendentemente ternas.
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