quinta-feira, 13 de junho de 2024

Sentimento do mundo - Carlos Drummond de Andrade

Sentimento do mundo, Carlos Drummond de Andrade, Publifolha, 2008, capa dura, 77 páginas, 188gr.

::: "Tenho apenas duas mãos/e o sentimento do mundo". Os dois versos, abrindo o poema que dá título a este livro, são também uma introdução ao universo de Carlos Drummond de Andrade - um território literário sulcado pela ironia e pela perplexidade metafisica, dividido entre o tom prosaico (que aproxima a poesia dos problemas do homem comum, da "vida presente") e a impossibilidade da expressão (demarcando o abismo interior de cada um). 

"Sentimento do Mundo" é uma obra-chave na trajetória do poeta: publicada em 1940, confirma a sensibilidade modernista de "Alguma poesia" e "Brejo das almas", com seu lirismo atento ao anedótico e ao coloquial, mas também desenvolve aquela complexidade que já estava presente em "No meio do caminho", o célebre poema de seu livro de estreia no qual se anunciam os pedregosos obstáculos da linguagem. A esses elementos, que Sentimento do Mundo amplia, se agregam preocupações de cunho político que passariam a ser permanentes na obra drummondiana. O leitor tem diante de si, portanto, a síntese de uma poética que funde o registro memorialístico como em "Confidência do itabirano", com seu desfecho entre gaiato e melancólico ("Itabira é apenas uma fotografia na parede./Mas como dói!") - ao protesto inflamado de "Mãos dadas" e "Elegia 1938" ambos em litígio contra um "mundo caduco". Seria preciso acrescentar que a caducidade à qual se refere Drummond não diz respeito apenas à degradação da "carne da vida" (como no áspero "Dentaduras duplas") ou das relações sociais, mas da própria linguagem poética - que, como constatamos a cada leitura de Sentimento do Mundo, o poeta não cessou de renovar. ::: 


Nenhum comentário:

Postar um comentário