Lições de Abismo, Gustavo Corção, Círculo do Livro, 1976, capa dura, 268 páginas, 353gr.
::: Lições de Abismo é o único romance do escritor Gustavo Corção. Ele foi um autor católico que sempre expressou sua fé por meio de artigos contundentes em jornais de grande circulação nas décadas de 1960 e 1970. Dentre as suas obras, O Desconcerto do Mundo é um deslumbrante livro de ensaios, e A Descoberta do Outro, um comovente relato de conversão.
O protagonista de Lições de Abismo é José Maria, mas só sabemos seu nome ali pela página 70. É como se ele não fosse ninguém até então. Trata-se apenas de um homem que vai morrer, atormentado pela certeza das certezas: “A morte é o que há de mais certo (...) e é por outro lado a ideia que mais nos custa admitir (...) É uma certeza que anda ao contrário das outras”.
Enquanto o médico Dr. Aquiles analisa o tórax de José Maria, o angustiado paciente observa um crucifixo na parede. Sem qualquer esperança, acusa o doutor de colocar aquilo como uma “nota de consolo” ou só um “lugar-comum silencioso”. Renegada a cruz, José Maria começa sua jornada em direção ao abismo.
Lições de Abismo conta a busca por uma verdade maior, por uma que tenha uma ressonância dentro de nós. Deus se aproxima por meio do silêncio e a fé é este ato de confiança em algo que, inacreditavelmente, reverbera no homem, durante a vida e na morte.
Ao final, Gustavo Corção parece salvar apenas uma obra, Solilóquios, de Santo Agostinho, especialmente o trecho: “Conhecer Deus e minha alma, eis tudo o que quero saber”. E José Maria só compreende a morte depois que reconhece que alguém, uma presença, morreu antes de nós. - André Luiz Corrêa, Gazeta do Povo :::
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